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Por um fio!

“Es necesario conocer la idiosincrasia de cada especie, su vida de relación con las demás especies de su habitat y sus enemigos naturales, para comprender las causas que han producido tantas y tan interesantes variaciones en las formas de nidificar.”

Juan B. Daguerre, 1931.

A “extinção” dos dinossauros é, provavelmente, a catástrofe natural terrestre mais amplamente conhecida pela população; mesmo por aqueles que não acreditam que esses animais maravilhosos um dia tenham habitado o nosso planeta.

A maioria dos cientistas aceita que os dinossauros foram “extintos” ha aproximadamente 65 milhões de anos pelas consequências da queda de um meteorito [que inclui vulcanismo - Renne et al. 2015] na região de Yucatán, costa atlântica do México (Figura 1).

Porém, essa “extinção” não foi completa para os dinossauros [por isso as aspas!]. Ao menos um grupo deles, daqueles que apresentavam penas, sobreviveu até os dias atuais: as Aves!!!

Figura 1: Mapa indicando o provável local da queda do meteorito que levou os dinossauros a extinção.

É difícil dizer com precisão quais (ou qual), foram os fatores que colaboraram para o sucesso de sobrevivência das Aves nesse período. A maioria dos estudos foca na alimentação e na capacidade de proteção como os principais fatores (ex. Sheehan & Hansen 1986, Aberhan et al. 1996). No entanto, alimentação e proteção não garantem a sobrevivência da espécie, apenas do indivíduo. Para a sobrevivência e a perpetuação da espécie é necessário também que ocorra a reprodução!!!



A forma de reprodução das Aves poderia ter favorecido sua sobrevivência?


Pelos registros que temos dos fósseis até o momento, todos os ninhos conhecidos para os “Dino-Aves” e Aves fósseis anteriores as Aves atuais (Neornithes) foram construídos no solo (Wesolowski 2004, Naish 2014). Não só foram construídos no solo como os ovos estavam em parte enterrados nele (Varricchio et al. 1997, López-Martínez et al. 2000, Tanaka et al. 2015) (Figura 2).

Esse comportamento (enterrar os ovos), muito provavelmente era um fator determinante no sucesso reprodutivo das espécies, pois seus ovos não contavam com a presença de uma calaza (Varricchio & Barta 2014, Xu et al. 2014).


Figura 2: retirada de López-Martínez et al. (2000): Megaloolithus siruguei.

Uma corda no ovo

A calaza (Figura 3) é uma estrutura em forma de fina “corda torcida” presente nas duas extremidades da gema ancorando o embrião de maneira a mantê-lo no lugar (Clavert 1962, Erritzoe et al. 2007, Rahman et al. 2007). Com os ovos enterrados a perda da prole seria evitada por um possível movimentar dos ovos (Varricchio et al. 1997).


Figura 3: Principais partes do ovo. Retirado de: https://blogjardimdababilonia.wordpress.com/2013/11/22/sobre-ovo/

A ausência de calaza está presenta ainda hoje em alguns grupos animais, como nos jacarés, crocodilos [Crocodylia] e Serpentes (Pérez & Panilla 2002). Um teste feito com os ovos de uma espécie de “cobra-d’água”, Natrix maura, que não possui calaza, demonstrou que, embora os nascimentos fossem bastante semelhantes 37,5% dos filhotes que tiveram seus ovos mexidos morriam logo após o nascimento, enquanto para aqueles que não foram mexidos apenas 4,5% (Aubret et al. 2015).

Sabemos atualmente muito bem que as Aves viram e desviram os ovos para controlar a temperatura durante a incubação. Dessa forma, os ovos com a presença da calaza permitiria não só que novos locais de reprodução pudessem ser explorados sem a necessidade de um solo adequado, como pode ter sido uma das vantagens que facilitaram as Aves a sobreviverem à extinção em massa do Cretáceo-Paleógeno (K-Pg) (Varricchio & Barta 2015), bem como a subsequente diversificação na forma de seus ninhos (Collias 1997), muitos deles ainda desconhecidos por nós...

Se as Aves conseguiram sobreviver por conta “de um fio” eu não sei, mas sei que temos muita sorte de conviver ao lado desses animais tão fantásticos!

Referências Bibliográficas

_Aberhan, M., S. Weidemeyer, W. Kiessling, R.A. Scasso & F.A. Medina (1996) Faunal evidence for reduced productivity and uncoordinated recovery in Southern Hemisphere Cretaceous-Paleogene boundary sections. Geology 35(3): 227-230.

_Aubret, F., G. Blanvillain & P.J.R. Kok (2015) Myth busting? Effects of embryo positioning and egg turning on hatching success in the water snake Natrix maura. Scientific Reports 5: 13385.

_Clavert J (1962) Symmetrization of the egg of vertebrates. Adv Morphoge 2: 27-60.

_Collias, N.E. (1997) On the origin and evolution of nest building by Passerines birds. The Condor 99: 252-270.

_Erritzoe, J., K. Kampp, K. Winker & C.B. Frith (2007) The Ornithologit’s Dictionary. Barcelona: Lynx Edicions.

_López-Martínez, N., J.J. Moratalla & J.L. Sanz (2000) Dinosaurs nesting on tidal flats. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology 160: 153-163.

_Naish, D. (2014) The fossil record of bird behaviour. Journal of Zoology 292: 268-280.

_Pérez, G.R. & M.P.R. Panilla (2002) El tracto reproductivo de la hembra en Crocodylia: estudio histológico y ultraestructural de Caiman crocodilus fuscus (Crocodylia: Alligatoridae). Acta Biológica Colombiana 7(1): 3-19.

_Rahman, M.A., Baoyindeligeer, A. Iwasawa & N. Yoshizaki (2007) Mechanism of chalaza formation in quail eggs. Cell Tissue Res. 330: 535-543.

_Renne, P.R., C.J. Sprain, M.A. Richards, S. Self, L. Vanderkluysen & K. Pande (2015) State shift in Deccan volcanism at the Cretaceous-Paleogene boundary, possibly induced by impact. Science 350(6256): 76-78.

_Sheehan, P.M. & T.A. Hansen (1986) Detritus feeding as a buffer to extinction at the end of the Cretaceous. Geology 14(10): 868-870.

_Tanaka, K., D.K. Zelenitsky & F. Therrien (2015) Eggshell porosity provides insight on evolution of nesting in dinosaurs. PLoSONE 10(11): e0142829. doi:10.1371/journal.pone.0142829.

_Varricchio, D.J. & D.E. Barta (2015) Revisiting Sabath's “larger avian eggs” from the Gobi Cretaceous. Acta Palaeontologica Polonica 60(1): 11-25.

_Varricchio, D.J., F. Jackson, J.J. Borkowski & J.R. Horner (1997) Nest and egg clutches of the dinosaur Troodon formosus and the evolution of avian reproductive traits. Nature 385: 247-250.

_Wesołowski, T. (2004) The origin of parental care in birds: a reassessment. Behavioral Ecology 15: 520-523.

_Xu, X., Z. Zhou, R. Dudley, S. Mackem, C.-M. Chuong, G.M. Erickson & D.J. Varricchio (2014) An integrative approach to understanding bird origins. Science 346(6215): DOI: 10.1126/science.1253293.


Baixar texto em PDF: "Caliologia Brasilica 2(1): 1-4".





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